Aiki, a primeira metade da palavra Aikidõ, se compõe de dois caracteres chineses: . ai, que significa “reunir, fundir, juntar, harmonizar”, e ki, uma palavra com uma multiplicidade de sentidos que incluem (como neste caso) “espírito” e “disposição”. Aiki sempre foi um tema central da filosofia asiática, mas Morihei declarou: “Minha interpretação de aiki é muito mais ampla do que as interpretações do passado.” Ele definiu aiki de várias maneiras:
Aiki é o princípio universal que congrega todas as coisas; é o processo maior de unificação e de harmonização que opera em todos os reinos, desde a vastidão do espaço até o menor dos átomos.
Aiki é o princípio universal que congrega todas as coisas; é o processo maior de unificação e de harmonização que opera em todos os reinos, desde a vastidão do espaço até o menor dos átomos.
Aiki reflete o grande projeto do cosmos; ele é a força da vida, um poder irresistível que une os aspectos’materiais e espirituais da criação. Aiki é o fluxo da natureza.
Aiki significa a união do corpo e do espírito e é uma manifestação dessa verdade. Além disso, aiki nos permite harmonizar o céu, a terra e a humanidade numa unidade.
Aiki significa “conviver em harmonia”, num estado de entendimento mútuo. Aiki é a virtude social suprema. Ele é o poder da reconciliação e do amor.
A visão que Morihei tem de aiki é muito próxima das idéias de integritas (plenitude) e de consonantia (harmonia) da filosofia ocidental. A integração – entre corpo e espírito, entre eu e o outro, entre humanidade e natureza, entre verdade e beleza – é uma condição que todos devem se empenhar por alcançar, e é também um estado moral: os que são íntegros podem agir da maneira mais apropriada e mais justa.
Consonantia (harmonia, em grego) é um “ajustar-se”. Também os sábios do Ocidente perceberam a harmonia das esferas e o processo em que todos os elementos se integram para formar o todo maior. Como Hipócrates escreveu: “Todas as coisas estão em concordância.” A Física atual define esse conceito com as seguintes palavras:
“A quantidade de energia positiva que existe no universo é exatamente igual à quantidade de energia negativa; o universo é, e sempre foi, um sistema de energia em perfeito equilíbrio.”
A intuição de que “todas as coisas estão em concordância” era uma crença comum no Oriente e também no Ocidente. Lamentavelmente, a civilização moderna foi envenenada pela proposição deturpada de alguns de que a vida não passa de uma forte rivalidade entre espécies em que somente os mais preparados conseguem sobreviver. A vida é sempre uma prova, e as pessoas precisam estar física e mentalmente preparadas para vencê-la – essa é uma das razões por que praticamos Aikidõ – mas a visão perniciosa de que a existência é uma batalha constante contra inimigos que devem ser totalmente subjugados ou aniquilados é uma das causas diretas de grande parte da exploração e da destruição tanto da humanidade como do meio ambiente que irrompeu violentamente nos séculos XIX e XX.
A ênfase dada à necessidade de “vencer”, por quaisquer meios e a qualquer custo, ofuscou enormemente o nobre ideal do “desportismo” nos esportes contemporâneos. Morihei escreveu: “Hoje os esportes só servem como exercício físico – eles não treinam a pessoa como um todo. A prática de aiki, por outro lado, promove o valor, a sinceridade, a fidelidade, a bondade e a beleza, além de tornar o corpo forte e saudável.” No Aikidõ tradicional não existem campeonatos formais, e por conseqüência não há “vencedores”, nem “vencidos”. Algumas pessoas têm muita dificuldade de aceitar essa posição, e mesmo alguns dos discípulos mais próximos de Morihei discordavam do mestre nesse ponto – eles insistiam em implantar algum tipo de competição, semelhante às lutas praticadas no judô ou aos torneios com um sistema de pontuação de estilo olímpico.
Morihei, entretanto, sustentou até o fim que aiki é cooperação. Em cada exercício de Aikidõ, os parceiros se alternam nos papéis de ataque e de defesa, de vencedor e de vencido. Dessa forma, o praticante aprende muito treinando nos dois lados da equação do Aikidõ. Espectadores (e às vezes os próprios estudantes) muitas vezes observam que “as técnicas do Aikidõ só funcionam se o parceiro cooperar”. É precisamente essa a questão. Rinjirõ Shirata Sensei costumava explicar aiki deste modo: “Vivendo em harmonia, demo-nos as mãos e alcancemos a linha de chegada juntos.”
Aiki, como um agente de cura, conota ressuscitação e revitalização. Os melhores médicos de todas as culturas compreendem que um diagnóstico apropriado depende em grande parte do fato de ele, médico, estar em sintonia com o paciente para sentir o que este realmente sente. Só então ele terá condições de prescrever um remédio condizente. (No Japão antigo, um tipo de aiki era usado para reanimar pessoas que ficavam inconscientes devido a um acidente ou que entravam em coma devido a alguma doença.) Morihei falava freqüentemente das propriedades restauradoras e salutares do treinamento em aiki: “O volume de energia depois de um bom exercício deve ser maior do que o existente antes do exercício.”
Há um outro significado de aiki que é essencial para a verdadeira harmonia: a união perfeita de um homem e de uma mulher, um estado excelso de total intimidade física e espiritual. (Nos manuais de sexo chineses, aiki era o termo usado para a experiência sexual suprema.) A integração natural e pura dos princípios masculino e feminino está no amago de toda a criação. A libido não deve ser confundida com a mera concupiscência; deve, sim, ser compreendida como um anseio sincero de integração e de realização plena. Macho e fêmea são estéreis até que se unam; o desejo de ficar ligado, como se fosse um, para restaurar a unidade primordial, é um objetivo fundamental do Aikidõ (e de todas as outras artes).
De modo semelhante, existe uma espécie de embriologia do aiki: o filho ideal é concebido quando os pais estão em harmonia total, constituindo uma verdadeira unidade de corpo e de alma. Se os pais permanecem em harmonia durante a gravidez, o feto é alimentado com aiki, uma qualidade que bate no coração da mãe e flui no seu sangue.
Tecnicamente, aiki é a “noção de tempo perfeita”. No dõjõ, o praticante procura fundir-se suavemente com a força de ataque, aplicando o volume exato de movimento, de equilíbrio e de força. Seguindo esse princípio, procuramos nos ajustar também à vida diária, reagindo aos vários desafios da vida com uma noção aguçada de aiki.
Tecnicamente, aiki é a “noção de tempo perfeita”. No dõjõ, o praticante procura fundir-se suavemente com a força de ataque, aplicando o volume exato de movimento, de equilíbrio e de força. Seguindo esse princípio, procuramos nos ajustar também à vida diária, reagindo aos vários desafios da vida com uma noção aguçada de aiki.
Dõ, a segunda metade da palavra Aikidõ, simboliza tanto um “caminho” particular que a pessoa percorre, como um “modo de vida” (way) universal baseado em princípios filosóficos. Os que trilham o caminho do Aikidõ vestem um tipo especial de roupa, meditam de uma certa maneira e praticam técnicas características. Esse é o caminho cultural do Aikidõ, o contexto da prática baseado nos ideais e técnicas clássicas do fundador, Morihei. O modo de vida do Aikidõ abrange o espectro mais amplo da vida – como convivemos com outros seres humanos fora do estreito mundo do dõjõ, como nos relacionamos com a sociedade como um todo e como tratamos a natureza. Nesse sentido, Aikidõ é Tantra, um entrelaçamento do macro e do microcosmo.
A verdade básica do Tantra é: “Tudo o que existe no universo existe dentro do corpo de cada pessoa. O que está aqui, está lá; o que não está aqui, não está em nenhum outro lugar.” O gnosticismo ocidental expressa essa verdade assim: “Quando fizerdes o de cima como o de baixo, e quando fizerdes do macho e da fêmea um só ser, então entrareis no Reino” (Evangelho de Tomé), ou mais sucintamente: “Como em cima, assim embaixo.” No idioma de Morihei, isso se expressa como ware soku uchu, “Eu sou (nós somos) o universo!” Cultivando o nosso corpo e a nossa alma através da prática do Aikidõ, adquirindo uma percepção verdadeira e praticando atos autênticos, aprendemos a viver cosmicamente.
Aikidõ é também ioga, um “jugo” que nos unifica, nos liga e nos atrela a princípios superiores. As oito partes do ioga clássico se assemelham aos ensinamentos do Aikidõ clássico de Morihei:
Yama, “princípios éticos”, sendo o mais importante ahimsa, “não-violência”. Nas palavras de Morihei, “Aqueles que procuram a competição estão cometendo um grave erro. Bater, ferir ou destruir é o pior pecado que um ser humano pode cometer”.
Niyama, “disciplina”. No Aikidõ, recebe o nome de tanren (forjar): “O objetivo do treinamento é disciplinar o indolente, enrijecer o corpo e polir o espírito.”
Asana, “posturas graciosas”. Às vezes é útil que o praticante pense nos movimentos do Aikidõ não como técnicas de uma arte marcial mortífera, mas como: asana, posturas físicas que ligam o praticante a verdades mais elevadas. Como asana, as técnicas do Aikidõ são dolorosas e difíceis no começo, mas no final se tornam mais fáceis, mais estáveis e mais agradáveis. Na verdade, um princípio do ioga diz que “a asana é perfeita quando o esforço para executá-Ia desaparece” e “quem domina a asana conquista os três mundos”. Morihei ensinava: “Funcionando harmoniosamente juntas, direita e esquerda dão origem a todas as técnicas. Os quatro membros do corpo são os quatro pilares do céu.”
Pranayãma, “controle da respiração”, é necessário para partilhar da respiração do universo: “Inspire e deixe-se levar até os confins do universo; expire e traga o cosmos de volta para dentro de você. Em seguida, respire toda a fecundidade da terra. Finalmente, mescle a respiração do céu e a respiração da terra com a sua própria respiração, transformando-se na própria Respiração da Vida.”
Pratyãhara significa “libertar-se da confusão”, um afastamento da distração dos sentidos, uma mente resoluta e imperturbável. Nesse sentido, Morihei ensinava:
“Não fixe o olhar nos olhos do seu oponente: ele pode hipnotizá-Ia. Não fixe os olhos na sua espada: ele pode intimidá-Ia. Não se concentre no seu oponente de maneira alguma: ele pode absorver sua energia.”
Dharana, “fixando a mente”, também conhecida como ekagratã, “mantendo um único ponto”, é um conceito bem-conhecido nos círculos do Aikidõ: “Se está centrado, você pode se movimentar livremente. O centro físico é sua barriga; se sua mente também está assentada ali, você pode ter certeza da vitória em qualquer empreendimento.”
Dhyana, “meditação”, é um estado de intuição profunda e de visão clara: “Expulse os pensamentos limitadores e retome ao verdadeiro vazio. Poste-se no meio do Grande Vazio.”
Samadhi, “absorção total”, vai ainda mais longe. No samadhi, a distinção entre cognoscente e coisa conhecida se dissolve, uma transfiguração que Morihei expressava como “Eu sou o universo!” Os poderes sobrenaturais de Morihei tinham origem no seu samadhi-aiki que tudo absorvia, e seu comportamento excêntrico também era característico dos níveis mais elevados do ioga – uma espécie de loucura divina que transcendia o tempo e o espaço. “Se não se unir ao vazio do Puro Vazio, você não encontrará o caminho de aiki. ”
Os ensinamentos de Morihei foram resumidos na frase Takemusu Aiki. Take simboliza “valor e bravura”; representa a irreprimível e inabalável coragem de viver. Musu representa nascimento, crescimento, realização, plenitude. É a força criativa do cosmos, responsável pela produção de tudo o que sustenta a vida. Takemusu Aiki é uma expressão simbólica que significa “a existência mais destemida e criativa!”
Aiki significa harmonia e integração – entre corpo e alma, entre o eu e o outro, entre a humanidade e a natureza. Quando praticado adequadamente num ambiente saudável, aiki é uma fonte inesgotável de energia e de amor.
Izanami (à esquerda, sustentando a lua no alto) e Izanagi (à direita, segurando o sol), dois deuses xintoístas da criação. Essa imagem faz parte de um pergaminho de transmissão secreta da escola de esgrima Shinkage. Também no Aikidõ, a interação harmoniosa de Izanami (mãe) e de Izanagi (pai), sexual e espiritualmente, simboliza a natureza cooperativa do universo. Morihei usava com freqüência os símbolos de Izanami e de Izanagi em seus ensinamentos: “Izanami é o elemento feminino, receptivo, associado com a água, força centrífuga, e o lado direito das coisas; Izanagi é o elemento masculino, ativo, associado com o fogo, força centrípeta, e o lado esquerdo das coisas.” Morihei acreditava que toda mulher chegará a realizar seu potencial como uma deusa de compaixão e todo homem seu potencial como um buda vitorioso.
Se você tem vontade de praticar ou conhecer melhor a arte marcial japonesa Aikido, eu gostaria de indicar a Facerj Aikido. A Facerj tem como seu fundador o Shiran Paulo Henrique de Menezes. Além de aprender um Aikido tradicionalmente marcial e mantendo todos os ensinamentos do Bushido, você fará parte de uma família que tem como objetivo o crescimento físico, mental e espiritual. O Aikido ensinado na Facerj traz também, na sua base, os ensinamentos e as formas de treinamento criados pelo mestre Kenji Tomiki.
Kenji Tomiki (8˚ dan de judo/aluno direto de Jigorokano) foi o primeiro sensei a se graduar 8˚ dan. Ele recebeu seus ensinamentos diretamente de Morihei Ueshiba. A Facerj Aikido não pratica nenhum tipo de competição em seus dojos e mantém todos os ensinamentos do Aikido tradicional de Morihei Ueshiba. Para maiores detalhes entre no site: http://www.facerj.com.br/php/
FONTE: http://artesmarciaispaulonetto.wordpress.com/2010/06/03/o-caminho-da-harmonia/
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