quinta-feira, 17 de março de 2011

FRUTINHA VERDE OLIVA: UMBU



A riqueza do umbuzeiro
Luiz Epstein *
ASPECTOS GERAIS E AGRONÔMICOS
O umbuzeiro ou imbuzeiro, Spondias tuberosa, L., Dicotyledoneae, Anacardiaceae, é originário dos chapadões semi-áridos do Nordeste brasileiro; nas regiões do Agreste (Piauí), Cariris (Paraíba), Caatinga (Pernambuco e Bahia) a planta encontrou boas condições para seu desenvolvimento encontrando-se, em maior número, nos Cariris Velhos, seguindo desde o Piauí à Bahia e até norte de Minas Gerais. No Brasil colonial era chamado de ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra tupi-guarani "y-mb-u", que significava "árvore-que-dá-de-beber". Pela importância de suas raízes foi chamada "árvore sagrada do Sertão" por Euclides da Cunha.
O umbuzeiro é uma árvore de pequeno porte em torno de 6m de altura, de tronco curto, esparramada, copa em forma de guarda-chuva com diâmetro de 10 a 15m projetando sombra densa sobre o solo, vida longa (100 anos), é planta xerófila. Suas raízes superficiais exploram 1m de profundidade, possuem um órgão (estrutura) - túbera ou batata - conhecida como xilopódio que é constituído de tecido lacunoso que armazena água, mucilagem, glicose, tanino, amido, ácidos, entre outras. O caule, com casca cor cinza, tem ramos novos lisos e ramos velhos com ritidomas (casca externa morta que se destaca); as folhas são verdes, alternas, compostas, imparipenadas, as flores são brancas, perfumadas, melíficas, agrupadas em panícula de 10-15cm de comprimento. O fruto - umbu ou imbu - é uma drupa, com diâmetro médio 3,0cm, peso entre 10-20 gramas, forma arredondada a ovalada, é constituído por casca (22%), polpa (68%) e caroço (10%). Sua polpa é quase aquosa quando madura. Semente arredondada a ovalada, peso de 1 a 2,0 gramas e 1,2 a 2,4cm de diâmetro, quando despolpada. O fruto é muito perecível.

100 gramas de polpa do fruto contém:

44 calorias
0,6 g de proteína
20 mg de cálcio,
14 mg de fósforo
2 mg de ferro
30 mg de vitamina A
33 mg de vitamina C
0,04 mg de vitamina B1

O umbuzeiro perde totalmente as folhas durante a época seca e reveste-se de folhas após as primeiras chuvas. A floração, pode iniciar-se após as primeiras chuvas independentemente da planta estar ou não enfolhada; a abertura das flores dá-se entre 0 hora e quatro horas (com pico as 2 horas). 60 dias após a abertura da flor o fruto estará maduro. A frutificação inicia-se em período chuvoso e permanece por 60 dias. A sobrevivência do umbuzeiro, através de tantos períodos secos, deve-se à existência dos xilopódios que armazenam reservas que nutrem a planta em períodos críticos de água.
O umbuzeiro cresce em estado nativo, nas caatingas elevadas de ar seco, de dias ensolarados, e noites frescas. Requer clima quente, temperatura entre 12ºC e 38ºC, umidade relativa do ar entre 30% e 90%, insolação com 2.000-3.000 horas/luz/ano e 400mm a 800mm de chuva (entre novembro e fevereiro), podendo viver em locais com chuvas de 1.600 mm/ano. Vegeta bem em solos não úmidos, profundos, bem drenados, que podem ser arenosos e silico-argilosos. Evitar plantio em solos que estejam sujeitos ao encharcamento.
Propagação / obtenção de mudas
A propagação do umbuzeiro pode ser feita através da semente, de estacas de ramo ou de enxertia. Para a obtenção de pomares uniformes e com indivíduos com características de plantas com produção e qualidade do fruto sugere-se a obtenção via enxertia.
Produção de mudas via sementes: as sementes devem ser provenientes de frutos de plantas vigorosas, sadias e de boa produção; os caroços devem ser originários de frutos com casca lisa, forma arredondada e sadios. O caroço (semente) se possível despolpado, deve ter de 2,0 a 2,4cm de diâmetro; para quebrar a dormência da semente deve-se efetuar um corte em bisel na parte distal do caroço (oposta ao pedúnculo do fruto) para facilitar a emergência da plantinha. O recipiente a receber a semente pode ser saco de polietileno ou outro com dimensão de 40cm x 25cm, que possa receber 5kg de mistura de barro com esterco de curral curtido na proporção 3:1. Três a quatro caroços são colocados no recipiente a 3-4cm de profundidade; a germinação dá-se entre 12 e 90 dias (de ordinário em 40 dias), podendo-se obter até 70% de germinação. Efetuar desbaste com plantinhas com 5cm de altura. Muda apta ao campo com 25-30cm de altura.
Produção de mudas via estacas de ramos: estacas do interior da copa da planta, são colhidas entre os meses de maio e agosto; devem ter 3,5 de diâmetro e comprimento entre 25cm e 40cm. As estacas são postas a enraizar (brotar) em leitos de areia fina ou limo, enterradas em 2/3 do seu comprimento, em posição inclinada; a estaca também pode ser enterrada no local definitivo de plantio.
Produção de mudas via enxertia: método em experimentação/observação; trabalhos do IPA (Pernambuco) asseguram êxito no obtenção da muda por enxertia via método janela aberta; a EMBRAPA/CPATSA obteve 75% de "pega" em enxertos de garfos de umbuzeiro sobre cajazeira (Spondias lutea). Não há registros de frutificação/produção de frutos dos enxertos.
Plantio
O espaçamento: sugere-se 10m x 10m (100 plantas/ha) 12m x 12m (69 plantas/ha) e até 16m x 16m (39 plantas/ha em terrenos férteis). As covas devem ter dimensões de 40cm x 40cm x 40cm ou 50cm x 50cm x 50cm segundo textura do terreno. Ao abrir a cova separar terra dos primeiros 15-20cm; sugere-se adubação de cova com 20 litros de esterco de curral curtido, 300 gramas de superfosfato simples e 100 gramas de cloreto de potássio misturados a terra de superfície e colocadas no fundo da cova 30 dias antes do plantio. No plantio retirar recipiente que envolve o torrão da muda e irrigar a cova com 20 litros de água. O plantio deverá ser feito no início das chuvas.
Tratos culturais
Manter o umbuzeiro livre da concorrência de ervas nos primeiros 5 anos; efetuar capina em coroamento em torno da planta e roçagem em ruas e entre plantas nas chuvas. Podar galhos secos, doentes e mal colocados (que se dirijam de fora para dentro da copa) antes do início da estação chuvosa. Sugere-se adubar em cobertura com leve incorporação, 30 dias após plantio, a 20cm do pé da planta, com 50g de uréia e 30g de cloreto de potássio; no final das chuvas aplicar a mesma dose. No 2º ano adubar em cobertura com incorporação no início das chuvas, com 60g de uréia, 200g de superfosfato simples e 40g de cloreto de potássio, por planta.
Pragas e doenças
Pragas: a cochonilha escama-farinha ataca ramos finos e frutos; o cupim escava galerias no caule; a lagarta-de-fogo e patriota atacam as folhas e a abelha-erapuá ataca os frutos. Ainda cita-se o ataque de mosca branca e mané-magro. Para controle químico das pragas indica-se produtos a base de malatiom (Malatol 50 E) óleo mineral, triclorfom (Dipterex 50) e carbaryl (Carvim 85 M, Sevin 80).
Doenças: as doenças afetam os frutos do umbuzeiro; os agentes são fungos causadores da verrugose-dos-frutos e septoriose.
Colheita / rendimento
O pé franco do umbuzeiro inicia produção a partir do 8º ano de vida. A maturação do fruto é observada quando a cor da sua casca passa do verde ao amarelo. Maduro o fruto cai ao chão, sem danificar-se; deve-se preferir frutos arredondados e com casca lisa. Para consumo imediato o fruto é colhido maduro; para transportar colher o fruto "de vez". Cada planta pode produzir 300kg de frutos/safra (15.000 frutos). Um hectare com 100 plantas, produziria 30 toneladas. O umbu é considerado produto vegetal de extração (não cultivado), coletado em árvores que crescem espontaneamente. Em 1988 a produção brasileira foi de 19.027t e da Bahia 16.926t. As regiões econômicas do Baixo Médio São Francisco, Nordeste e Sudoeste são importantes produtoras de umbu na Bahia.

UTILIDADES DO UMBUZEIRO
Vários órgãos da planta são úteis ao homem e aos animais:
Raiz
Batata, túbera ou xilopódio é sumarenta, de sabor doce, agradável e comestível; sacia a fome do sertanejo na época seca. Também é conhecida pelos nomes de batata-do-umbu, cafofa e cunca; criminosamente é arrancada e transformada em doce - doce-de-cafofa. A água da batata é utilizada em medicina caseira como vermífugo e antidiarréica. Ainda, da raiz seca, extrai-se farinha comestível.

Folhas
Verdes e frescas, são consumidas por animais domésticos (bovinos, caprinos, ovinos) e por animais silvestres (veados, cagados, outros); ainda frescas ou refogadas compõem saladas utilizadas na alimentação do homem.

Fruto
O umbu ou imbu é sumarento, agridoce e quando maduro, sua polpa é quase líquida. É consumido ao natural fresco - chupado quando maduro ou comido quando "de vez" - ou ao natural sob forma de refrescos, sucos, sorvete, misturado a bebida (em batidas) ou misturado ao leite (em umbuzadas). Industrializado o fruto apresenta-se sob forma de sucos engarrafados, de doces, de geléias, de vinho, de vinagre, de acetona, de concentrado para sorvete, polpa para sucos, ameixa (fruto seco ao sol). O fruto fresco ainda é forragem para animais. A industrialização caseira do umbu sugere os seguintes produtos:
- Fruto maduro: polpa para suco integral, casca para obtenção de pasta, casca desidratadas ( ao sol ou forno) e moídas para preparo de refrescos, xarope;
- Fruto "de vez" (inchado) ou verde: umbuzadas, pasta concentrada, compota;
- Fruto verde (figa): umbuzeitona, doce de umbu;
- Casca do caule: remédio;
- Folhas: salada da folha verde e salada refogada da folha.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS, C. O. Industrialização caseira do umbu: Uma nova perspectiva para o Semi-árido. Salvador: EPABA, 1988. 20p. (Circular Técnica, 14).
DONATO, A. A "árvore sagrada do sertão" precisa ser preservada. Integração, v.4, n.26, p.16-18, mar./abr. 1996.
FRUTAS tropicais: Umbu. Guia Rural Abril, 1988.
MENDES, B. V. Umbuzeiro: Importante fruteira do Semi-árido. 1990. (Coleção Mossoroense).
FONTE: http://www.seagri.ba.gov.br/revista/rev_1198/umbu.htm




O Projeto Replicando e Plantando - Resgate do Umbuzeiro no Sertão Sergipano, visa a melhoria do pasto apícola de comunidades caatingueiras dos municípios do território alto sertão sergipano, bem como o resgate e incentivo ao umbu (Spondias tuberosa Arruda), através da produção e plantio de mudas melhoradas, formação de jovens ambientalistas e conscientização dos agricultores, apicultores e demais atores sociais da região.



O umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) não é apenas uma simples frutífera nordestina, ele é, antes de tudo, um destacado representante das potencialidades da região. Está inserido na cultura do sertanejo, sendo para esse uma planta sagrada, como bem afirma Euclides da Cunha em seu livro "Os Sertões".

É uma frutifera adaptada às condições de estresse hídrico. Os frutos, colhidos de forma extrativista são a principal fonte de renda, em determinada época do ano, para milhares de famílias sertanejas.
O umbuzeiro é de grande importância para a região nordestina porque representa a principal fonte de renda para muitas famílias na época da safra; contudo, a sua exploração ainda é praticamente toda extrativista.
O umbu costuma ser consumido in natura e na forma de suco, mas sua polpa é muito usada em doces, sorvetes, licores e na tradicional umbuzada, muito apreciada pelos sertanejos.

Sua polpa passou a ser considerada para compor misturas de sucos tropicais para o mercado externo, o que levou as indústrias a fazerem investimentos consideráveis em meados da década de 80, visando a produzir sucos tropicais, inclusive umbu. Apesar dessa situação, a produção comercial de umbuzeiro continuou insignificante.

Os xilopódios (conhecidos como batatas) são usados para a fabricação dos apreciados doces de cafofa. Elas fornecem também água potável de propriedades medicinais, usada na medicina caseira para a cura de diarréias e verminoses. O suco das túberas é uma bebida saudável, proporcionando doses apreciáveis de sais minerais e de vitaminas, principalmente de vitamina C, com eficiente efeito curativo nos casos de escorbuto.
De todo umbu produzido no Brasil, 99,7% são advindos do Nordeste, sendo o Estado da Bahia responsável por 86,4%, Pernambuco com 6,5% e Rio Grande do Norte com 2,8%. O restante da produção é proveniente de Sergipe, Paraíba Ceará, Minas Gerais e Piauí.

No semi-árido sergipano, no contexto da bacia do Rio São Francisco destaca-se as sub-bacias do Rio Curituba, Rio Jacaré e do Onça, que se encontram amplamente impactados pela forte pressão de assentamentos rurais sobre remanescentes florestais, onde as atividades voltadas à preservação dos resquícios da caatinga não são praticadas, principalmente no que tange o respeito às áreas de reserva legal e preservação permanente, demandando ações de revitalização sustentável dessa bacia hidrográfica.

Assim, mediante as pressões socioeconômicas existentes na região, onde as áreas florestadas e as frutas do semi-árido estão sendo drasticamente reduzidas devido, entre outros fatores, à falta de conscientização ecológica e pouco entendimento da importância dessas espécies para a vida cultural e econômica do povo Sertanejo, é fundamental buscar meios que possibilitem a integração harmônica entre a geração de renda e a recuperação florestal, promovendo assim uma atividade sustentável.

A produção e plantio de mudas de espécies frutíferas da caatinga, como o umbuzeiro, aliado à apicultura, são atividades econômicas que possuem grande interface com os recursos florestais, uma vez que a produção do mel está relacionada diretamente à existência de plantas que produzem flores, quanto mais plantas floridas maior a produção melífera. Nesse sentido a relação apicultura e recuperação florestal, resultam em uma equação onde ambos os componentes são essenciais e se complementam, bem como a utilização do umbu para geração de renda e/ou melhoria da quantidade e da qualidade da alimentação das famílias do sertão.
Nessa ótica, o Projeto Replicando e Plantando - Resgate do Umbuzeiro no Sertão Sergipano que visa a melhoria do pasto apícola de comunidades caatingueiras dos municípios do território alto sertão sergipano através da produção de no mínimo 10.000 mudas melhoradas de umbuzeiro, bem como o seu resgate e incentivo; formação de jovens ambientalistas e conscientização dos agricultores, apicultores e demais atores sociais da região.
Aliado ao Projeto de Integração e Fortalecimento do Arranjo Produtivo Local da Apicultura no Alto Sertão Sergipano, em parceria com a CODEVASF/MI/ICODERUS, estimulará os agricultores e apicultores a manter as áreas florestadas, além de recuperá-las e enriquecê-las.
Neste sentido destaca-se:

a) A importância da implementação de atividades econômicas que trabalhem em sintonia com a preservação e recuperação dos remanescentes florestais,tendo condições da replicagem dessa ação  pelo fato da implantação do viveiro de produção de mudas de umbuzeiro;
b) Tornar as manchas florestais pontos de geração de renda familiar através de sua relação com o umbu e a apicultura;
c) A exploração do umbuzeiro já é uma atividade praticada na região, onde se explora o fruto in natura e os doces do fruto e da "batata", sendo assim uma atividade que poderá ser facilmente incorporada à atividade econômica tendo a comunidade como o grande vetor de apropriação dessa atividade;
d) No semi-árido o umbuzeiro e a apicultura podem melhorar a condição alimentar através da inserção de produtos ricamente protéicos.

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