terça-feira, 22 de março de 2011

O LEGADO DE ALEISTER CROWLEY

Durante boa parte de sua vida, Aleister Crowley buscou incansavelmente, e isto de fato era uma gigantesca obsessão para ele, reconhecimento de seu trabalho. Sua vida, marcada pela excentricidade, drogas, excessos sexuais, nunca lhe permitiu reconhecimento do valor de sua Obra. Isto porém, e mesmo ele o saberia quando de seu amadurecimento mágico, só viria a acontecer após seu falecimento. Aliás, Crowley dizia estar meio deslocado no tempo e, como também afirmado por seu curioso, Liber Al vel Legis, ele entendia ser o sucesso o seu grande ordálio, a grande prova de sua existência. Mas seu sucesso, de modo paradoxal, ocorrendo em vida, seria a cabal prova de seu fracasso, pois, segundo Crowley, o estado mental da absoluta maioria dos seus contemporâneos, ainda não suportando a revelação contida em suas obras, o rejeitaria por completo. A aceitação delas seria, neste caso então, o incontestável argumento e prova de sua falha.
          Esta opinião poderia ter sido, muito bem, apenas mais uma jactância da presunçosa personalidade da Besta, ou simplesmente uma tola desculpa arquitetada como álibi a ser usado quando de seu fracasso, isto não fosse a imparcialidade da história demonstrando e confirmando a gabolice do pior homem do mundo.
          Alguns de seus discípulos diretos se tornaram os principais responsáveis pela maior parte do que se vê em termos de vanguarda ocultista internacional. Entre tantos dignos de nota, citaremos somente aqueles mais conhecidos cujo importante trabalho é apenas um aspecto da forte influência exercida por Aleister Crowley. Personagens como Arnold Krumm-Heller (Fra. Huiracocha), Kenneth Grant (Aossic Aiwass), Austin Osman Spare (Zos vel Thanatos), Karl J. Germer (Saturnus), Louis Grady McMurty (Himenaeus Alfa), Cecil Frederick Russel (Genesthai), Charles Stanfeld Jones (Achad), Gerald Brosseau Gardner, entre outros, estiveram sob direta instrução de Crowley.
          Todos estes, cada um de acordo com a própria vontade, estabeleceram ou formaram novas Ordens, desenvolveram Ritos e criaram movimentos cuja base é a Lei de Thelema. Assim, Krumm-Heller herdou e estabeleceu a F.R.A., onde a palavra da Lei é (ou pelo menos era) Thelema; Kenneth Grant, líder mundial de um ramo da Ordo Templi Orientis e fundador da New Isis Lodge na Inglaterra, sendo ele um dos principais divulgadores da obra de Crowley; Austin Osman Spare, um talentoso artista plástico inglês, que desenvolveu um culto totalmente pessoal denominado Zos Kia; Karl J. Germer, que alguns consideram um Magister Templi da A.'. A.'.), torna-se, por herança, o O.H.O. da O.T.O.; Louis G. McMurty, um outro discípulo direto de Crowley, funda um outro ramo da O.T.O., hoje conhecido como o ramo americano ou californiano, também chamado de "Califado"; Cecil F. Russel fundou o Choronzon Club, grupo que mais tarde viria a ser conhecido como Great Brotherhood of God, a G.'.B.'.G.'.; Charles S. Jones, considerado o filho mágico de Crowley, descobriu a chave matemática do Liber Al vel Legis; e Gerald B. Gardner, a partir de Rituais escritos por Crowley, escreve seu Book of Shadows, concebe e funda a Wicca moderna.
          Mas a influência de Crowley não acaba aí. Uma interminável relação de Ordens poderia ser citada como, se considerando ou não seguidores da Lei de Thelema, fruto direto ou indireto de seu trabalho. Estas Ordens constantemente utilizam a farta obra de Aleister Crowley não só como referência, mas como sendo básicas a seus trabalhos e imprescindíveis ao desenvolvimento de seus Adeptos.
          Novamente aqui citaremos apenas as mais conhecidas Ordens e movimentos que, de uma forma ou de outra, são frutos do trabalho de Lorde Boleskine.
          Desta forma, temos a própria Ordo Templi Orientis Antiqua, a O.T.O.A., movimento fundado no Haiti, como dissidência da O.T.O., por Lucien-Francois Jean-Maine em 1921. Um inovador e interessante movimento conhecido na Inglaterra como Kaos Magick e a curiosa IOT (Illuminates of Thanateros) de Peter James Carrol, baseados nas obras de Crowley e Spare, tiveram vez nos anos 80. Os membros da IOT consideram-se herdeiros da Tradição da A.'.A.'. e do Culto Zos Kia, têm em Liber Null and Psychonaut, um grupo de ensaios de boa qualidade, um de seus mais importantes escritos.
          No que diz respeito aos seguidores de Crowley, há de se ressaltar o lamentável exemplo da já citada versão Californiana da Ordo Templi Orientis, informalmente fundada por Louis G. McMurty (Hymenaeus Alfa) no início dos anos 70. Atualmente dirigida por William Breeze (Hymenaeus Beta), esta ramificação da O.T.O. tem se destacado das demais agremiações de natureza thelêmica, por seu envolvimento em escândalos, por processos judiciais, perseguições, etc., tudo para garantir apenas a este grupo o direto legal (Copyrights) de exploração comercial da Obra de Aleister Crowley.
          Felizmente, como já dito, a Lei de Thelema não se resume a versão americana da O.T.O. Atualmente existe uma enorme variação de Ordens espalhadas pelo mundo sob as mais diversas nomenclaturas. Cada uma a seu modo, na Inglaterra, Suíça, Espanha, Venezuela, França, Austrália e no Brasil, trabalham para a promulgação da Lei de Thelema.
          Devemos aqui, também, mencionar um interessante fenômeno dos anos 60, que até hoje permanece conquistando uma considerável gama de interessados em ocultismo. Trata-se da Igreja de Satã, movimento fundado na Califórnia, por Anton Szandor La Vey, que, muito embora não tenha uma direta ligação com Crowley, consiste numa espécie de simplificação de seus mais básicos escritos. Outro que adquiriu certa notoriedade, nessa mesma época, foi Alex Sanders, um discípulo de Gardner que se auto denominou Rei dos Bruxos. Sanders utilizou alguns rituais elaborados por Crowley, desenvolvendo seu próprio controvertido sistema de Witchcraft.
          Além destas, temos também algumas derivações da G.'.D.'. e da Stella Matutina que, embora cristianizadas por seus fundadores, utilizam a Obra da Besta como importante fonte de pesquisa: Society of the Inner Light, de Madame Violet Firth (Dion Fortune), Servants of Light, de W. E. Butler e Basil Wilby (mais conhecido como Gareth Knigth). A Aurum Solis, liderada por Melita Denning e Osborne Phillipis, também consiste numa variação da Golden Dawn.
          À parte os movimentos mágicos e iniciáticos, Crowley também exerceu enorme influência sobre o trabalho de vários artistas, compositores e conjunto musicais; famosos grupos e cantores de rock como Black Sabbath, Led Zeppelin (Jimmy Page, guitarrista do Led, inclusive comprou o famoso "Castelo" de Boleskine, onde Crowley morou por alguns anos), Rolling Stones, The Clash, Beatles (no álbum Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band, sua fotografia aparece como "uma das pessoas que gostamos"), Iron Maiden, Ozzy Osbourne (que compôs o clássico "Mr. Crowley"), entre tantos outros, além de artistas do quilate de H. R. Giger, Kenneth Anger, David Bowie, etc., têm no exemplo de 666 uma fonte de inspiração para seus trabalhos e vidas.
          Também na literatura encontramos vários romances que foram concebidos utilizando a imagem cultivada por Crowley, como exemplo: The Magician de W. Somerset Maugham (o mesmo autor de O Fio da Navalha), The Goat-Food God de Dion Fortune, Stranger in a Strange Land de Robert A. Heinlein, etc.
          Finalizando, não poderíamos deixar de mencionar o meio artístico brasileiro, que teve no memorável Raul Seixas, o grande arauto da mensagem de Aleister Crowley. Em especial as músicas A Lei e Sociedade Alternativa (ambas de Raul Seixas e Paulo Coelho), que têm como base Liber OZ. Outras notáveis obras de sua autoria são A Maçã, Tente Outra Vez (estas em parceria com Marcelo Motta e Paulo Coelho) além de muitas outras canções do maluco beleza que apresentam, de um modo bem particular ao Raul, a Lei de Thelema.

FONTE:http://www.artemagicka.com/therion/legado.htm

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